5.4.12

Na capa da Folha de São Paulo


Dia 26 de março de 1.994, sábado...
O dia dificilmente esquecerei, da noite pouca coisa guardei.
Saímos de Leme creio que após as 11h., o Lobinho, o Jânio e eu. Nosso destino: um show com algumas bandas punks na cidade de Limeira (SP), no "Clube do Sindicato dos Metalúrgicos de Limeira".
Fomos as primeiras pessoas a chegar no local, logo depois do meio-dia eu acho. Próximo dali havia uma lanchonete, onde passamos a maior parte do tempo. Comemos lanche e bebemos muitas cervejas e outras bebidas alcoólicas. Aos poucos, o pessoal começou a chegar. De Leme, além de nós, vários outros amigos do movimento também compareceram (dentre estes me lembro do Leka, do Bocão, da Denise, da Dani...).
Nenhum de nós tinha ideia que naquele evento punk estaria a imprensa, a reportagem do jornal Folha de São Paulo.
Quando a repórter e o fotógrafo chegaram, eu particularmente já estava completamente bêbado e não me lembro de praticamente nada do que disse a eles. Mas me lembro que eles tiraram várias fotos, deram atenção especial a mim e a outro punk que conheci no evento, o Vira-lata, certamente porque ele e eu éramos os únicos de cabelo moicano no show.
A única banda que me lembro é a DZK.
O show terminou de madrugada e a essa altura eu já estava me recuperando da bebedeira, dos efeitos do álcool.
Lá fora, o Lobinho, o Jânio e eu começamos a nos despedir dos amigos que havíamos conhecido lá e de outros que já conhecíamos. Alguns caras, acredito que uns 5 ou 6, começaram a fazer algumas perguntas suspeitas para nós; eram perguntas a respeito do Movimento Oi, o Movimento Careca em Leme. Esses caras já haviam despertado a nossa desconfiança durante o show. Percebemos que na 'pogação' eles pareciam intencionados a agredir alguns punks (inclusive eu).  Apesar de desconfiarmos que eles fossem carecas, descemos a rua do evento a caminho da rodoviária na companhia daqueles caras, mas além de nós, haviam vários outros punks de outras cidades. O problema é que muitos deles não desconfiaram de nada.
Ao final da rua, o grupo se dividiu. Nós de Leme e alguns amigos de Araras seguimos por um lado enquanto outro grupo seguiu para o outro, porém, em companhia dos suspeitos carecas. No caminho, falamos a respeito e todos tínhamos quase certeza de que eram carecas.
Quando enfim chegamos na rodoviária de Limeira, certamente causamos espanto. Com certeza éramos mais de 20, a maioria de porre, falando alto, rindo, deitando nos bancos, no chão...
Não demorou muito e a polícia chegou. Não foram nada gentis, muito pelo contrário. Alguns foram agredidos e me lembro que um amigo de Araras (SP) desacatou um dos policiais e acabou sendo levado para a delegacia (ele só saiu depois que já havíamos partido). Porém, o fato mais surpreendente e até chocante foi quando por volta das 7 horas da manhã dois jovens que haviam estado no show apareceram na rodoviária completamente machucados. Eles estavam no grupo que seguiu com os supostos carecas. Disseram que em determinado local eles se revelaram e começaram a agredi-los sem qualquer motivo (como é de praxe nesses ganguistas). Quebraram garrafas no asfalto e as usaram para agredi-los; alguns conseguiram fugir, mas outros não tiveram a mesma sorte. Me lembro que um deles tinha cabelos longos (curtia metal) e não aparentava ter mais de 17 anos, ele estava muito ferido; havia deixado o hospital e estava com muitos curativos pelo corpo. A covardia daqueles idiotas deixou todos bastante revoltados.



(CLIQUE NAS IMAGENS PARA AMPLIAR)




Bom, acredito que a nossa galera chegou em Leme depois das 8, talvez 9 horas da manhã do dia 27 de março, domingo, aí cada um seguiu o caminho de sua casa.  Quando passava em frente ao antigo Hotel Terra da Vera Cruz, de propriedade do meu tio Jairo, ele, da sacada me chamou.  Meu moicano já estava caído, mas mesmo assim ele quis tirar umas fotos. Dias depois ele me deu as duas. (ao lado)  Hoje o Hotel Terra da Vera Cruz nem existe mais. Meu tio vendeu o prédio, que foi demolido e hoje em seu lugar funciona uma loja de artigos variados.




04 de abril de 1.994, segunda-feira...
Na hora do almoço, após sair do serviço, fui até a Banca do Rubão (centro da cidade, próximo onde eu trabalhava) e me deparei com minha foto na capa do jornal Folha de São Paulo (no canto esquerdo da parte superior). Sensação estranha. Comprei dois exemplares e lembro-me de ter achado engraçado a minha cara de bêbado nas fotos. Fui reconhecido na rua por várias pessoas durante alguns dias.
Mas não concordei com muita coisa que colocaram na matéria a respeito do movimento punk (como por exemplo o nome de algumas gangues aliadas ou simpatizantes de carecas)
Também odiei a frase "Punks Vira-lata e Curse exibem o penteado em festival". (Que merda! kkkkkkk)
Mas sabe, valeu a experiência.  Eu estava prestes a completar meus 17 anos.

E já se passaram tantos anos! 
Como o tempo passa!

 


Veja a edição de n.o 23.742 do Jornal Folha de São Paulo
(04-Abril-1994) disponibilizada no site do respectivo jornal.

abordando o evento punk em Limeira (SP).


* O Jânio faleceu há alguns anos. 
Da galera, o que vejo com mais frequência é o Lobinho 
(à esquerda, na foto abaixo, tirada em 13 de dezembro de 2.008)




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